quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MARIA: "MÃE DE DEUS" E "MEDIANEIRA"


Nós, católicos, temos uma devoção muito especial por Maria. Em outubro temos a festa de Maria como a Nossa Senhora da Conceição de Aparecida, a padroeira do Brasil. Muitos foram os nomes e os títulos dados carinhosamente a ela na história destes dois mil anos de cristianismo. Entre eles, dois em particular merecem ser lembrados pela sua importância, mas também pelo seu significado polêmico: Maria Mãe de Deus e Maria Medianeira de todas as graças (este último apareceu no mês de agosto em um folheto litúrgico comum em nossas paróquias, gerando alguns questionamentos, razão deste artigo).
É preciso entender, desde logo, que toda a atenção devotada a Maria está relacionada à sua maternidade para com Jesus Cristo. Isto significa que toda Mariologia (reflexão teológica sobre Maria) tem seu fundamento último na Cristologia (reflexão teológica sobre Cristo). Ou seja, os títulos dados a Maria adquirem sentido somente à luz de Cristo.
Na oração da Ave-Maria rezamos: “santa Maria, mãe de Deus”; também na Oração Eucarística rezamos: “Enfim, nós vos pedimos, tende piedade de todos nós e dai-nos participar da vida eterna, com a Virgem Maria, Mãe de Deus…” (Oração Eucarística II). O título Mãe de Deus foi dado a Maria já nos inícios do cristianismo. Sinal disso pode ser a saudação de Isabel a Maria: “Como posso merecer que a mãe do meu senhor venha me visitar?” (Lc 1,43). A arqueologia tem descoberto também resquícios com este título já na Igreja primitiva. Em grego, theotokos que significa literalmente: “que dá à luz Deus”. Este título foi oficializado pelos Concílios de Éfeso (431) e de Calcedônia (451). Embora quando o Concílio de Éfeso o definiu queria defender a fé em Cristo como verdadeiro homem e verdadeiro Deus (seu contexto é, na verdade, mais cristológico que mariológico). Mas com este título não se quer dizer que Deus como Deus tenha mãe, neste caso ela também seria divina. O que se quer dizer é que Jesus é o Filho (segunda pessoa da Santíssima Trindade), verdadeiro Deus encarnado e, portanto, Maria, enquanto mãe de Jesus, pode ser chamada de Mãe de Deus. A própria palavra maternidade não pode ser aplicada a Maria em seu significado simplesmente biológico. Em todo caso, o Concílio de Éfeso, já citado, dentro do espírito de sua época, explica assim: “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (DS 251, citado pelo Catecismo da Igreja Católica 466; pode-se consultar também o número 495). Dizer que Maria é Mãe de Deus significa dizer que Jesus é verdadeiramente homem sendo Deus. Mas não que Maria tenha gerado o Deus Trino.
Unido a esta compreensão de Maria como Mãe de Deus está a posição privilegiada que ela ocupa na história da salvação. Por isso foi chamada de mediadora de todas as graças. Mediadora (ou medianeira) significa que passa por meio dela. Também aqui é importante entender bem. O único mediador é Cristo. Basta uma citação bíblica: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo” (1Tm 2,5).
Quanto à aceitação de uma mediação de Maria, na história encontramos desde muito cedo alguns testemunhos. Já no século IV Maria tem um papel na intercessão pelas virgens. Papel que vai se ampliando. Bernardo de Claraval a denomina “mediadora da salvação”. Na oração da Salve Rainha a chamamos de “advogada nossa”, ou seja, que intercede por nós. O papa Leão XIII se pronunciou a este respeito em 22 de setembro de 1891 com a Encíclica Octobri mense e, posteriormente, em 22 setembro de 1896, com a Encíclica Fidentem piumque. Nesta última, o papa diz que Maria é “mediadora junto ao mediador”. O Concílio Vaticano II praticamente não se pronunciou a este respeito. João Paulo II, em sua Encíclica Redemptoris Mater, usa expressões como “mediação maternal” ou “participada e subordinada”. Karl Rahner, um dos maiores teólogos da Igreja Católica, escreveu a este respeito: “sobre este conceito [Maria “medianeira de todas as graças”], como também sobre a realidade que este exprime, a Igreja não tomou ainda uma posição magisterial. A mediação de Maria pode ser geralmente entendida à medida da intercessão dos santos no céu pela comunidade dos santos sobre a terra: não pode comparar-se à mediação de Cristo, que é eficaz por si mesma, mas deve considerar-se como humilde pedido de ‘ajuda’…”. O que com isto se quer dizer é que não se pode confundir a mediação de Jesus com aquela atribuída, às vezes, na Igreja, a Maria. O único meio de chegar ao Pai é Jesus. Embora possamos pedir a intercessão também de Maria.

Fonte:*Pe. Luiz Antonio Belini*



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