quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

MARIA, "MULHER EUCARÍSTICA"

Contemplarmos Nossa Senhora como “morada de Deus” é tomarmos consciência da dignidade da pessoa humana, enquanto habitação do Espírito Santo.

De modo especial, Maria é o templo de Deus por excelência, ela é a Arca da Aliança. Ela trouxe em seu seio imaculado, o próprio Filho de Deus. De tal forma amou o Pai e guardou as palavras do seu Filho que, o Filho e o Pai vieram a ela e nela fizeram sua morada.

Ao concebermos Maria como habitação do Sagrado, compreendemos o quanto Deus nos ama, apesar de nossa condição frágil.

É impossível nos aproximarmos de Maria sem nos aproximarmos de Jesus. Maria nos leva a Cristo. Ela é toda cercada de santidade que a envolve e plenifica. Por isso, junto de Maria somos banhados pela luz do Espírito Santo que a cumulou de graça. Em toda a Sagrada Escritura não há mulher que tenha sido agraciada dessa maneira a ponto de ter sido convidada para ser a mãe do Filho de Deus. O Concílio Vaticano II nos diz: “Maria foi plasmada e feita uma nova criatura pelo Espírito Santo... Pelo que nada há de estranho em chamar a Mãe de Deus de totalmente santa e imune do pecado... Enriquecida desde o primeiro instante de sua concepção com o resplendor de uma santidade inteiramente singular”. São Lucas nos relata: “O Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1, 34). Aqui, o evangelista nos apresenta Maria como uma nova tenda do encontro de Deus com a humanidade. Coberta pela sombra do Altíssimo, Maria se torna o santuário onde Jesus toma imagem visível.

Ao nos aproximarmos de Nossa Senhora, entramos no templo do Senhor, onde está o primeiro tabernáculo que Jesus habitou por nove meses. Em Maria, Deus encarnado visita seu povo.

Entre todos os santos, a santíssima Virgem Maria resplandece como modelo de santidade e de espiritualidade eucarística.

Maria está de tal modo, ligada ao mistério eucarístico que mereceu que o Papa João Paulo II a chamasse de “Mulher Eucarística”. Ela viveu este espírito eucarístico antes que o Sacramento da Eucaristia fosse instituído por Jesus, isto pelo fato de ter oferecido seu seio virginal à encarnação do Verbo de Deus. Logo após o nascimento de Jesus, ela realizou um gesto puramente eucarístico e ao mesmo tempo, eclesial: apresentou o Menino Jesus aos pastores, aos magos e ao sumo-sacerdote no templo em Jerusalém; o fruto bendito de seu ventre apresenta-o ao povo de Deus e aos gentios para que o adorassem e o reconhecessem como o Messias, o próprio Filho de Deus.

Em Caná da Galiléia a solícita intercessão de Maria livra do vexame os noivos na hora do primeiro sinal que seu Filho deu, oferecendo-se através de um milagre. Aos pés da cruz, participando nos sofrimentos de seu Filho, oferece-o ao Pai como vítima pura e perfeita. Depois, acolhendo-o morto em seus braços, faz a entrega total depositando-o numa sepultura como semente secreta de ressurreição e de vida nova para a salvação do mundo. Foi ainda uma oferta de natureza eucarística e eclesial a sua presença em Pentecostes quando da efusão do Espírito Santo, primeiro dom do Senhor Ressuscitado à sua Igreja nascente.

Nossa Senhora teve consciência de ter concebido Cristo para a salvação de toda a humanidade. Essa consciência tornou-se mais clara na sua participação no mistério pascal, quando seu Filho, com as palavras: “Mulher, eis o teu Filho” (Jo 19, 26), lhe confiou, na pessoa do apóstolo João, todos os seus fiéis. Como a Virgem Maria, também a Igreja torna presente o Senhor Jesus por meio da celebração eucarística para dá-lo a todos, a fim de que “tenham a vida em abundância” (Jo 10, 10).

Para ser como Maria, Mulher Eucarística, Seta Indicadora e Arca da Aliança, devemos transformar a nossa vida que deve ser toda ela eucarística.

O livro dos Atos dos Apóstolos nos refere que, após a ascensão do Senhor ao céu, os apóstolos voltaram de novo ao Cenáculo, onde costumavam se reunir (At 1, 12-13). “Todos, unânimes, eram assíduos à oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus” (At 1, 14). Que isso quer dizer? A Mãe de Jesus estava ali presente, no seio da Igreja, que fundada na totalidade do evento Jesus Cristo, em sua Encarnação, no mistério do anúncio do Reino de Deus, na escolha dos discípulos, na entrega da vida na cruz, em sua Ressurreição, no envio do Espírito Santo, no Pentecostes, seria promulgada ao mundo. Lucas, o autor dos Atos, não poderia deixar de anotar esse fato: Maria está presente no instante em que vai resplandecer a Igreja. Em cada um desses instantes há uma revelação da totalidade do mistério de Deus em sua relação com a humanidade. Em cada um desses momentos está a Igreja e, nela e com ela, está também a Eucaristia unida profundamente a Maria enquanto Mãe de Cristo.

Todos os que creram, todos os que tinham entrado na Igreja, “eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42). Que era a “fração do pão”? Era a Eucaristia que se celebrava. Partia-se o pão (“fração do pão”), porque a Eucaristia se celebrava com um pão grande, como Jesus certamente o fez na última Ceia: “Tomou o pão e partiu-o, e distribuiu a eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo’” (Lc 22, 19).

Os cristãos daqueles primeiros dias em Jerusalém, reunidos para ouvir a doutrina dos apóstolos, para a oração, para a fração do pão (Eucaristia), para a prática da caridade, continuavam a gozar, certamente da presença de Maria. A Mãe de Jesus, que estava com eles no desabrochar da Igreja no dia de Pentecostes, continuava no meio deles, participando da fração do pão. A Eucaristia, que por assim dizer, viera dela, que tem com ela relação e origem, era seu alimento de cristã, que caminhava com a Igreja nas sendas da fé e da caridade. Esse “caminhar com a Igreja” ocupa no pensamento e na linguagem do Papa João Paulo II, uma extensa parte em sua encíclica Redemptoris Mater (Mãe do Redentor). O Santo Padre descreve Nossa Senhora, nessa encíclica, com três características muito significativas:

a) Nossa Senhora foi “aquela que acreditou”; aquela que abraçou a fé; aquela que creu em Cristo, por isso mesmo a primeira que entrou na Igreja; pode-se dizer o primeiro membro vivo da Igreja.

b) Nossa Senhora é “aquela que está a caminho”, isto é, a caminho da prática da fé, a caminho da salvação eterna e definitiva. O texto em que Lucas diz que “Maria se pôs a caminho[...] dirigindo-se apressadamente à casa de Isabel” (Lc 1, 39), o Papa faz dele uma transposição para dizer-nos que Nossa Senhora estava sempre a caminho, isto é, a caminho da fé, naqueles primórdios da vida de Jesus, até o Calvário. Foi uma caminhada que ela fez de Nazaré até o Gólgota, crendo, acompanhando Jesus, unida a Ele.

Maria, agora, caminha com a Igreja. A Igreja, novo Cristo que nasceu do Calvário, tem um caminho longo a percorrer, também caminho de fé, igual ao de Maria, em que cada um de nós é servo como Maria, em que cada um deve aceitar Cristo como Maria o aceitou.

c) João Paulo II abre-nos uma terceira perspectiva sobre Nossa Senhora: sua mediação. Está escrito no apóstolo Paulo que “existe um só mediador entre Deus e os homens” (1Tm 2, 5-6). Isso é verdade teológica. Mas vamos ler o texto completo de Paulo: “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se deu em resgate de muitos”(1Tm 2,5-6).

Lido assim todo o texto vê-se que o acentuado está na palavra homem. Só enquanto Deus, Jesus não seria mediador — observa São Tomás de Aquino. É enquanto Homem-Deus que Ele medeia entre Deus e os homens. “Há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo-Homem”. Então Maria está incluída nessa mediação de Cristo. Há uma única mediação de Cristo. Do Cristo que nasceu de Maria. Não devemos negar, conseqüentemente, sua mediação, unida à de Jesus Cristo.

Igreja e Eucaristia são inseparáveis. Não há Igreja sem Eucaristia, porque não há Igreja sem culto, não há Igreja sem sacrifício de Jesus que se renova, como não há Igreja sem encarnação de Jesus que se prolonga no tempo. A peregrinação da Igreja, ao longo dos séculos, se faz com a Eucaristia e pela Eucaristia, e com Maria, assunta ao céu, isto é, inseparável da mediação de Maria no céu.

O teólogo René Laurentin, resume assim o pensamento dos Santos Padres e de outros teólogos:

1º) A participação de Maria no mistério da Eucaristia corresponde, em primeiro lugar à participação que ela teve na Encarnação do Verbo de Deus. O Corpo que recebemos na Hóstia é o mesmo corpo daquele que nasceu de Maria. Esse corpo, nascido de uma mulher é o Corpo de Deus!

2º) A participação de Maria no mistério do Santo Sacrifício corresponde à sua participação no sacrifício da cruz, comemorado, tornado presente, aplicado. A presença de Maria junto à missa corresponde à sua presença no Calvário. Como conseqüência, é certa a universal intercessão de Maria junto ao Santo Sacrifício.

3º) As ligações de Maria com a Eucaristia se prendem, enfim, ao fato de que a Mãe de Deus participou na fração do pão na Igreja de Pentecostes. Ela é o modelo mais perfeito e mais concreto da comunhão do Corpo de Cristo.

4º) A Igreja, povo de Deus que está a caminho, vive da Eucaristia e pela Eucaristia, fruto do seio virginal de Maria e estritamente unida à sua oblação materna no Calvário. Por isso, é impossível, ou pelo menos inconveniente, separar o culto da Eucaristia do culto de Maria.

Diante dos avanços da doutrina mariológica, sintetizar em apenas quatro itens a participação de Maria Santíssima na Eucaristia nos parece até insuficiente. Cada vez mais devemos enfatizar, na caminhada de fé do povo de Deus, estes dois mistérios vitais para a Igreja: Cristo Eucarístico e sua Mãe medianeira junto da Eucaristia.











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