segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Um ano que começa

Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)


Está começando um novo ano. Por isso, cumprimentamos os amigos, os conhecidos e quem encontramos, repetindo-lhes: "Feliz ano novo!" Há, no coração de todos, a esperança  de que o ano de 2016 será melhor do que o ano que passou.
É possível que o corre-corre, comum de todo final de ano, não nos tenha possibilitado um momento de reflexão, um exame do que representou para nós o ano que terminou. Se isso realmente aconteceu, perdemos muito. Perdemos a oportunidade de olhar para cada acontecimento com mais objetividade. Tivéssemos feito uma revisão do que vivenciamos ao longo dos últimos doze meses, as alegrias vividas apareceriam em toda a sua riqueza e mesmo nossos momentos difíceis acabariam sendo melhor compreendidos. A recordação das pessoas que conhecemos e das amizades que aprofundamos nos fariam superar ideias pessimistas. Descobriríamos que tanto os momentos alegres como os difíceis nos amadureceram e ajudaram a mudar nossa maneira de encarar a vida.
Na dimensão nacional e internacional houve, sim, desentendimentos, profundas manifestações egoístas, roubos, guerras, fome, multidões de pessoas se deslocando de um país para outro... Mas, quanto a humanidade caminhou, progrediu e se enriqueceu com novas descobertas e invenções? É verdade que muito do progresso feito não levou em conta o bem do ser humano, que deveria estar sempre no centro de qualquer decisão. Seria até ingênuo negar que em muitos setores e situações o ser humano ficou até mais pobre, uma vez que se tornou escravo da técnica, do prazer pelo prazer e da matéria. Por outro lado, devemos lembrar os atos de bondade que a Imprensa não registrou: os inúmeros gestos de dedicação feitos no silêncio de muitas casas, creches e hospitais e os livros escritos, alimentando a esperança no coração de muitos...
Por mais completa que tivesse sido nossa reflexão, contudo, não teríamos sido suficientemente objetivos em nossas análises. O ideal é que pudéssemos, como Michel Quoist manifestou em um poema, subir muito alto, acima de nossas cidades, acima do mundo, acima do tempo, para purificar nosso olhar e enxergar tudo com os olhos de Deus. Aí, sim, poderíamos ver o ano que passou como o Pai o viu. Teríamos a exata dimensão do que 2015 representou em nossa vida e na caminhada da humanidade.
Verificaríamos que, em meio a tanto ódio, desgraça e pecado, a humanidade, faminta, esteve à procura da paz e do amor - de um amor que fosse capaz de saciar seu desejo de felicidade. Pois esse amor existe; essa paz é possível. Foi isso que pudemos perceber na recente celebração do Natal. Quando Jesus, a "Palavra de Deus" - isto é, Sua expressão verdadeira -, assumiu a nossa natureza humana e passou a viver no meio de nós, nossa vida adquiriu novas perspectivas. Agora, a humanidade não caminha mais sem rumo; ela é conduzida por um impulso de amor, em direção daquele que é o único capaz de saciar sua inquietação ("Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti" - Santo Agostinho).
Tivéssemos feito tais reflexões, nasceria em nosso coração uma dupla obrigação: de agradecimento e de pedido de perdão. De agradecimento por termos constatado que o Pai caminhou conosco, animando-nos, perdoando-nos e nos dando a possibilidade de tirarmos proveito até de nossos erros. De pedido de perdão não só por nosso egoísmo, que se manifestou em muitas ocasiões, mas sobretudo por não termos sabido perceber em nossa vida e na de todos os que nos cercam os sinais de amor que ele semeou para que pudéssemos encontrá-lo a cada hora e sempre.
Se ainda fizermos essas reflexões, poderemos esperar muito de 2016.
Fonte: CNBB

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